Jan 23

Ftigesp cobra o pagamento da dívida trabalhista ao novo dono da empresa

Nesta quarta-feira (23), apesar do Conselho de Administrativo de Defesa Econômica (Cade) já ter aprovado sem restrições a venda do grupo Abril para a Cavalry pelo valor simbólico de R$ 100 mil, algum conselheiro do órgão pode questionar a transação. O prazo encerra hoje. A Federação Paulista dos Gráficos (Ftigesp), entidade que continua acompanhando a situação desde quando a empresa entrou em recuperação judicial em 2018, depois dela demitir mais de mil trabalhadores sem pagá-los, como fez com o gráfico José Gomes (Chocolate), está preocupada mesmo em caso da venda. A entidade lembra da dívida de R$ 1,6 bilhão da empresa, em especial dos R$ 110 milhões em débitos trabalhistas que precisam ser pagos, sendo que é desconhecido o poder financeiro do novo proprietário, diferente do então capital dos herdeiros da Abril, estimados em R$ 10 bi.

O que se sabe, através da mídia, é que a Cavalry é uma empresa que já tinha inclusive ligações com o grupo Abril através do serviço em logística. O assunto foi até identificado pelo Cade. Porém, o fato não impediu que o órgão aprovasse a venda. A Cavalry Investimentos é comandada pelo empresário Fábio Carvalho, que ficará a frente da Abril após a transação.

"Carvalho tem patrimônio para pagar a dívida com Chocolate e os demais empregados demitidos? O questionamento é pertinente porque nenhum deles está recebendo seus direitos trabalhistas. E precisam de garantias", diz Leonardo Del Roy, presidente da Ftigesp, entidade da qual o Sindicato dos Gráficos de São Paulo é filiada. O setor jurídico do sindicato, liderado pelo advogado Raphael Maia, conseguiu inclusive na Justiça do Trabalho a reintegração de todos os demitidos desde o segundo semestre de 2017. Seja quem for o dono da empresa, precisará cumprir tal posição judicial.

"O fato é que se elevará o drama dos gráficos, jornalistas, administrativos e dos distribuidores demitidos enquanto a incerteza continua, com ou sem a venda, que, se confirmada, pode até trazer um novo problema em caso da Cavalry não demonstrar que tem capital necessário para quitar a dívida trabalhista, apesar de Carvalho já ter dado declarações, na mídia, de estar atento a esta situação", frisa Del Roy. O sindicalista apela para os então diretores da Abril. Pede que tenham sensibilidade para as dificuldades e necessidades em que vivem os funcionários demitidos sem seus direitos.

O gráfico Chocolate, por exemplo, laborou 16 anos na Abril sem nenhuma falta, pois "vestia a camisa da empresa", mas hoje precisa limpar banheiro de bar para sobreviver. Apesar disso, corre risco de perder sua casa diante do não pagamento da mensalidade do financiamento. Ele usou os 40% do FGTS, mas não foi suficiente para a quitação do imóvel. E espera seus direitos para evitar o mal maior. "Vivo uma situação desumana", desabafa. O sofrimento do gráfico Chocolate e de outros trabalhadores demitidos está sendo contada pelo site do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo através da série de vídeos "Vitimas da Abril". A Ftigesp e demais órgãos sindicais envolvidos continuarão na luta até que a justiça seja realmente feita e, para isso, convoca todos os atingidos para que continuam firmes.

written by FTIGESP