Dez 03

Enquanto a revista publica matéria sobre demissões de funcionários dos sindicatos após nova lei trabalhista, a editora não diz que demitiu 800 só em agosto, e, pior, não pagou os direitos, como já fizerem os sindicatos

Ao invés da Editora Abril pagar todos os direitos de centenas dos gráficos, jornalistas, administrativos e distribuidores demitidos há quatro meses, a empresa resolveu publicar agora uma matéria crítica em sua Revista Veja abordado sobre demissões de funcionários de sindicatos em decorrência dos efeitos da nova lei do trabalho de Temer. A matéria, porém, não conta que trabalhadores dos sindicatos foram pagos. Embora aparente mostrar o interesse nas demissões, a Abril encobre as demissões em massa que vem realizado desde o final de 2017, usando inclusive apoio da nova lei.

"Ao todo, estima-se que são 1,5 mil demitidos, 800 só no mês de agosto. A revista ainda não fala que a empresa os abandonou sem pagá-los, uma dívida em R$ 110 mi, mesmo os donos acumulando fortuna de R$ 10 bi", informa Leonardo Del Roy, presidente da Federação dos Trabalhadores Gráficos do Estado de São Paulo (Ftigesp). O sindicalista denuncia que a Abril simulou o pagamento de grande parte dos demitidos com o anúncio e/ou o parcelamento das dívidas trabalhistas. E simulou, conforme ele diz, porque na sequência do acordo incluiu tal passivo na recuperação judicial para justificar, ao menos na lei, mas não moralmente, o não pagamento, deixando esses trabalhadores ao relento, muitos passando necessidades.

Já os sindicatos, que foi o objeto único de interesse da revista da editora na matéria intitulada Em 'agonia', sindicatos demitem e vendem imóveis para sobreviver, mesmo com toda dificuldade, tem vendido até os imóveis para quitar as verbas rescisórias dos seus trabalhadores demitidos. Isso, porém, não foi veiculado pela Veja, mas encoberto, como fez em relação à utilização da nova lei trabalhista pela editora para demitir em massa, o que era proibido na legislação anterior. O foco foi só a crítica ao sindicato.

A matéria da Veja também marginaliza o papel dos sindicatos na defesa dos trabalhadores, inclusive dos demitidos pela Abril. Houve até protesto recente onde bloqueou a saída da revista por hora, sem que nada fosse publicado, apesar do importante caráter noticioso para a opinião pública. A revista, por sua vez, também não publicou sobre a recente garantia de direitos, como PLR, cesta, a todos os gráficos empregos da editora só por conta da ação da Ftigesp e do Sindicato (STIG-SP) da classe na capital.

A revista esqueceu ainda de dizer que os direitos estão garantidos para os empregados quem contribuíram ou não com o sindicato. Mas, no lugar, trouxe críticas como se isso não existisse. Com a falta de pluralidade de versões neste sentido, mesmo os gráficos beneficiados pelos sindicatos, eles acabam achando que nada foi feito. A Abril deixa de contribuir com a reflexão crítica dos leitores sobre o tema e a necessidade do trabalhador participar ativamente do sindicato para defender seus direitos e salários.

"Apesar dos trabalhadores estarem induzidos pela mídia e redes sociais a não contribuírem com os STIGs com efeitos ruins sobre a Ftigesp, a entidade em nenhum momento voltou às costas aos gráficos, inclusive os da Abril, garantindo as negociações salariais com repasse do período inflacionário, pisos salariais muito superiores ao mínimo nacional, PLR, horas extras e adicionais noturnos superiores à CLT, cesta básica e bem mais na Convenção Coletiva de Trabalho", realça Del Roy.

Tal realidade, porém, é ocultada das informações midiáticas, mostrando apenas que os trabalhadores não devem mais pagar aos sindicatos. O experiente sindicalista considera essa uma estratégia de manipulação do sistema econômico que visa isolar o movimento sindical na garantia dos interesses dos trabalhadores. "Não deixaremos nos levar por estes ataques e, como sempre, continuaremos na luta pela manutenção dos direitos da classe. Nunca abandonaremos o gráfico a sorte dos patrões".

written by FTIGESP