Mar 16

É raro mulher operando impressoras em gráficas. Apesar da superação de Ester Costa, que é mãe de uma filha, ainda conseguiu se aposentar - direito ameaçado pela então reforma previdenciária de Temer e aliados

Na região de Sorocaba, a profissional Ester Pedro da Costa, de 56 anos e mãe de uma filha, venceu uma barreira quase que intransponível para trabalhadoras gráficas no país, diante do preconceito e outras questões, inclusive pela cultura patriarcal. Ela inverteu o ainda padrão atrasado nos parques gráficos onde se exercita que lugar de mulher é no setor de Acabamento e em áreas do Administrativo. A profissional conseguiu ser impressora offset, um segmento nobre da área gráfica. E, até garantir a sua aposentadoria, atuou em três gráficas durante 25 anos. Apesar da superação e conquista, também precisou cuidar da filha e enfrentar a desigualdade salarial quando comparado o salário dos homens no setor.

"Comecei como todas pelo setor de Acabamento, depois bloquista, até chega na impressão", conta Ester agradecida pelas chances oferecidas a ela para rodar máquinas do tipo offset. Mas também não esconde sua chateação diante da desvalorização da mão de obra da mulher em seus postos de trabalho. Antes de se aposentar, a profissional passou pelas gráficas Camir, Vital Artes Gráficas e também pela Tipografia Belgráfica.

Outra coisa que tira a paciência de Ester é ouvir o governo defender a reforma da Previdência e, sobretudo, os motivos alegados para fazê-la. "Eles (Temer, ministros e os políticos aliados) querem nos passar que nós trabalhadores damos prejuízo ao nosso país por conta do nosso direito de se aposentar", questiona frontalmente a gráfica aposentada.

Ela classifica isso de enganação, porque considera que elevar a idade e o tempo de contribuição para as mulheres se aposentar, mesmo elas enfrentando desigualdade diária ao longo da vida, além da dupla/tripla jornadas de trabalho, não melhorará o país e piorará a vida da mulher e da sua família (que já é difícil). "No meu ponto de vista é uma 'Deforma Previdenciária', ou seja, ferra todas conquistas sociais", pontua Ester.

"Tenho orgulho e respeito por minha categoria da qual faço parte e vejo que valeu muito ser gráfica durante a minha vida", avalia a aposentada.
Ester, que está recebendo do Sindicato da categoria uma homenagem agora, durante este mês de celebração ao Dia Internacional da Mulher, faz questão de deixar o seu conselho às novas trabalhadoras gráficas: Jamais desistam de seus objetivos, pois os obstáculos que aparecerem em sua vida, que lhe sirvam de aprendizado, e devem estar preparadas a competir com igualdade dentro das indústrias, e da nossa sociedade.

"É uma homenagem muito merecida. Além de Ester ser uma excelente profissional, ela também era dirigente sindical e se dedicou bastante na luta pelos direitos de seus companheiros nas empresas onde atuou", destaca Leonardo Del Roy, presidente da Federação Estadual dos Gráficos (Ftigesp), órgão do qual o Sindicato da classe de Sorocaba é filiado. Ele destaca que Ester conseguiu quebrar o preconceito dentro das gráficas, atuando como impressora, função esta que tem sido bem procurada pelas mulheres junto às escolas de Artes Gráficas do Senai. "Parabéns para você minha querida amiga e que o seu trabalho na categoria gráfica sirva de incentivo para outras se tornarem profissional gráfica na área de impressão e dirigente sindical com dedicação, finda.

written by FTIGESP