Out 28

O setor empresarial gráfico confirmou que repassará os efeitos da crise financeira somente para os trabalhadores. Além das demissões, que já chegam a 4,5 mil no Estado; de acumular serviço para o funcionário que fica no emprego; e de fazer contratações com salário menor, o patronal decidiu que isso é pouco e quer botar mais na conta dos trabalhadores

Reunida nesta terça-feira (27), com a comissão de sindicatos obreiros, liderados pela Federação estadual da categoria (FTIGESP), os patrões insistiram na proposta de que, ao invés de responder a reivindicação da comissão, que exige 13 por cento de reajuste salarial e mais benefícios, tirarão direitos históricos dos gráficos, como acabar a PLR, reduzir o adicional noturno, diminuir cerca de R$ 400 do salário do pessoal do acabamento e diminuir o salário de chefias e impressores que recebem acima de R$ 7.360. Também visam reduzir o salário de todos na empresa, já que não querem recompor o salário diante da inflação (10 por cento), mas só parte dela e ainda em parcelada, sendo 4 por cento em novembro/15 e de 3 por cento em maio/16.

A revolta foi geral entre os sindicalistas que, de imediato, rechaçaram tal afronta e prometeram resposta à altura do desrespeito ao trabalhador, que é a parte mais importante do processo produtivo. Assim, já a partir desta quarta-feira (28), anunciaram que assembleias serão realizadas nas empresas em todo o Estado, sobretudo naquelas gráficas onde são dos patrões que participam da mesa de negociação salarial da classe.

Um dos mais revoltados era o presidente do STIG Guarulhos, Francisco Wirton. O dirigente disse que o trabalhador não é palhaço e já começou a planejar assembleias simultâneas, pelo menos em 10 gráficas da sua região, na próxima semana. Ele criticou o discurso patronal da crise. "É um pano de fuga para tentar reduzir e retirar conquistas dos gráficos. A Editora FTD, por exemplo, roda de domingo a domingo". O presidente do STIG São Paulo, Augusto Adriano, também muito chateado com a postura dos empresários, adiantou que se organizará para rebater firme tal situação junto aos trabalhadores da sua base de representação.

Os representantes dos STIGs Taubaté e Jundiaí já anunciaram que vão começar as assembleias já nesta semana. "Faremos várias assembleias e se os trabalhadores toparem pararemos algumas gráficas", adiantou Sandro Ramos, sindicalista de Taubaté. Ele estava muito revoltado com a proposta de reajuste abaixo da inflação e ainda de forma parcelada. O presidente do STIG Bauru, Amilton Kauffman, lembrou que o trabalhador não é a 'Casa Bahia' em alusão a condição de receber parceladamente. "Mostraremos força junto aos trabalhadores nas empresa para combater tal barbaridade", sentenciaram Kauffman, Ramos e Leandro Rodrigues, que é o presidente do STIG Jundiaí.

Além do problema salarial, os patrões não respeitam nem os direitos já conquistados com lutas no passado. Diante da ofensiva empresarial, o dirigente do STIG Barueri/Osasco, Ivan Cardoso, foi enfático e defendeu que haja paralisação geral nas gráficas onde os proprietários participam da mesa de negociação com a FTIGESP junto à comissão de STIGs.

"O sindicato patronal quer retirar nosso direitos históricos na canetada, mas isso não vai acontecer, porque vamos mobilizar os trabalhadores", ressaltou o atual dirigente do STIG Sorocaba, Everaldo Nascimento. A revolta entre os sindicalistas é tamanha diante da agressiva proposta patronal que o futuro sindicalista de Sorocaba, vencedor das recentes eleições ao comando da entidade, já entrou de cabeça na campanha salarial e adiantou que atuará firme nas articulações e mobilizações para a realização das atividades sindicais nas empresas da região. Ele deu um recado para que todos os trabalhadores busquem se conscientizar e entrem com tudo nesta luta para buscar reverter a tentativa de redução salarial e retirada de direitos histórico da Convenção Coletiva da classe.

Para Leonardo Del Roy, presidente da FTIGESP, ficou claro que os patrões não estão de brincadeira e estão dispostos a transferir toda a conta da crise para nossa categoria. Eles mostraram a desvalorização que praticam em seus empregados, não considerando a parcela mais importante do processo produtivo, que são os trabalhadores. Assim, o dirigente alertou a toda a categoria em todo o Estado que só há dois caminhos: ou aceita a desvalorização patronal com a retirada de direitos e redução de salário, ou os trabalhadores se unem e se mobilizam em defesa de sua autovalorização para reverter tal situação posto pelos empresários.

A autovalorização da categoria passará por assembleias e paralisações, se necessário for, em várias empresas gráficas em todo o Estado. Essa foi a decisão da FTIGESP e de todos os sindicatos envolvidos na ação. Já foi definido um calendário de luta nas empresas de abrangência de todos os sindicatos que estiveram na negociação com os empresários. O nome das gráficas não serão adiantadas para evitar contrarreação dos patrões sobre os empregados antes da atividade, mas elas já vão começar a partir desta quarta e intensificadas na próxima semana. "O lema de nossa campanha salarial é 'Lutar para avançar sim, retroceder nas conquistas jamais'. E os patrões entenderão o que isso quer dizer".

ECONOMISTAS ALERTAM SOBRE A TESE PATRONAL DA CRISE PARA RETIRAR DIREITOS E REDUZIR SALÁRIO DOS GRÁFICOS
Economistas experientes, ligados ao Dieese e à área acadêmica, participaram da 2ª mesa de negociação salarial dos gráficos nesta terça. Não houve avanço. O impasse fez com que os economistas avaliassem a questão e concluíram que os empresários tentam, de fato, fazer vários ajustes econômicos do setor diante da crise sobre a classe trabalhadora.

Na ocasião ouviram as teses dos empresários e dos trabalhadores para justificar o índice do reajuste salarial da categoria. Os patrões reafirmam que, devido a crise, é impossível recompor salários atrelados à inflação, que já beira os 10 por cento. Por outro lado, os sindicalistas obreiros entendem o efeito da crise sobre o patrão, mas não aceitam que a parte mais frágil economicamente, que também é, ao mesmo tempo, a mais importante na etapa produtiva da gráfica, que são os empregados, sejam estes os únicos penalizados da crise. Ainda pior é que, com a mesma tese sobre a crise, os empresários querem retirar direitos históricos da categoria. Os trabalhadores acusam a patronato de utilizar a crise para reduzir o salário e ainda arrancar os direitos da classe. O impasse fez com que os economistas avaliassem a questão e concluíram que os patrões tentam, de fato, fazer diversos ajustes diante da crise sobre os trabalhadores.

"O ajuste econômico do setor gráfico diante da crise financeira já vem sendo feita desde o fim do ano passado e tem sido direcionado sobre os empregados", diz Miguel Huertas, economista e assessor da Federação Estadual dos Trabalhadores Gráficos nas atuais negociações salariais. Já foram realizadas 4,5 mil demissões até o momento. Huertas afirma que esse já é um ajuste importante dentro do segmento, uma vez que a empresa passa a produzir com menos funcionários, o que reduz a folha de pagamento duplamente, pois o serviço recairá sobre os que ficam no emprego. Desse modo, reduzir salário de quem continua na ativa e que passou a trabalhar, acumulativamente, no lugar também dos demitidos, é injusto e significa dizer que é sim um novo ajuste sobre o trabalhador.

O primeiro ajuste dos empresários tem sido feito sobre os trabalhadores demitidos e, simultaneamente, sobre os que ficam no emprego, porque terão que realizar o serviço dele e dos gráficos desligados. No mínimo, estes trabalhadores merecem receber a recomposição da inflação nos seus salários, uma vez que já estão sendo penalizados diante da crise. A inflação já beira os 10 por cento e já corroeu o poder de compra do gráfico nos últimos 12 meses. A cesta básica já aumentou mais que a inflação e as tarifas públicas algo em torno de 16 por cento. Porém, mesmo assim, os patrões querem dar 7 por cento de aumento e de forma parcelada (4 por cento em novembro e 3 por cento em maio de 2016). Huertas diz que a proposta patronal de conceder um salarial abaixo da inflação funciona como um segundo ajuste econômico do setor sobre seu trabalhador. Isso é mesmo que cobrar duas vezes do trabalhador que continua na ativa dado sua contribuição nesta crise.

"A crise deixou o setor patronal bastante pessimista e ele tem buscado, no geral, negar a recomposição da inflação nos salários do trabalhador", confirma a economista Cláudia de Oliveira. Ele ratifica ainda que o cenário no setor gráfico já tem sido de ajuste econômico desde o final do ano passado, com o crescimento nas demissões. Reforça também que a maioria dos postos de trabalho em aberto não têm sido preenchidos. E as admissões caíram muito. Ainda assim, as contratações apresentam salários menores para o trabalhador que entram neste cenário. Isso já é um ajuste econômico dos empresários sobre os trabalhadores diante da crise. E agora o patronal tenta ajustar ainda mais a sua situação em detrimento do trabalhador, negando o aumento salarial dos empregados com base na inflação e tentando excluir direitos históricos, como a PLR. Dentro do contexto, e frente ao momento da crise, Oliveira reconhece que os empresários estão tentando passar tudo para os trabalhadores.

written by FTIGESP